segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Passeio por Juncais, Furadouro, Cerro do Alportel


Fotos Cata-Vento

Regresso ao Lar
 Ai, há quantos anos que eu parti chorando
                                                    deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...


Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...


Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...


Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...


Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!



Guerra Junqueiro, in 'Os Simples'

Regressei ao berço, às origens rurais, há sete meses. Uma vida tranquila, completamente diferente daquela que durante mais de cinco décadas vivi na cidade de Faro, a capital algarvia, apenas interrompida pelos estudos feitos em Lisboa. A pacatez da aldeia, a genuidade ( felizmente) da maior parte das pessoas, a sua simpatia e hospitalidade fazem deste espaço um pedacinho de céu de que muito me orgulho. Eu não sou propriamente uma montanheira mas é-me indiferente que algumas pessoas se me refiram com este epíteto desnecessário porque a vida no campo, apesar de difícil, é uma mais-valia para quem dela sempre usufruiu. Já não se trocam ovos por batatas, nem cabritos por porcos mas ainda se pedem emprestados os coentros, o louro, a salsa, os ovos, a farinha que depois se pagam com a ida à vila, sede do concelho, implantada no barrocal algarvio e que, pelas fotografias,se pode constatar que é paradisíaco além de saudável. Viver no barrocal é bom! Tenho por companhia as árvores, os arbustos, os vales, as serras, os meus dedicados cães e estas boas gentes que acumulam o trabalho da terra com a vida doméstica e outros trabalhos que acrescentam algum dinheiro à carteira porque os recursos são parcos e a vida cada vez mais cara.

17 comentários:

Andradarte disse...

Só lhe posso dar os parabéns....Pena eu não poder fazer o mesmo.Além do mais....Pelas fotos vejo um lugar maravilhoso...,onde vai juntar anos à sua vida...Fotos lindas e ilucidativas
Está de parabéns
Beijo

João Roque disse...

E cada vez há mais gente a regressar às origens.
É das poucas consequências positivas desta crise...

José Lopes disse...

A paz reflecte-se nas fotos e na poesia escolhida.
Cumps

helia disse...

Lindas Fotos de lugares maravilhosos e uma linda Poesia de Guerra Junqueiro que muitos de nós , pelo menos os mais velhos, conhecem desde o tempo da Escola.

Elvira Carvalho disse...

Não posso regressar às origens. As minhas estão debaixo dos meus olhos a 100 metros de distância na forma de um velho pinheiro manso. De resto o mundo da minha infância morreu há muito e apenas perdura na memória dos que lá trabalharam. São poucas as Secas de bacalhau ainda existentes em Portugal. Que eu saiba actualmente uma no Rosarinho, heróica sobrevivente das muitas existentes no século passado do Barreiro a Alcochete.
Bonitas as suas fotos. E muito bonito o lugar onde habita agora.
E o poema , um dos poucos do guerra Junqueiro de que gosto muito, pois confesso não sou grande fã da sua poesia.
Grande abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Cara Isabel

Abriu-me as vistas do seu terno paraíso e, qual anfitriã inexcedível, fê-lo ao som de quem me canta no ser e a quem admiro profundamente, quer quando assume pendor melancólico, quer quando grita pela revolução.

Um grande abraço e boas férias (estou de partida para o meu paraíso)

Lilá(s) disse...

Muitas vezes dei por mim pensando que, seria muito feliz na provincia! estou cansada da grande cidade...o problema é não ter raizes fora dela...
Bjs

Anónimo disse...

Sou, como a minha querida amiga já sabe, nascido e criado na "Invicta";):)
Vivo nesta linda cidade que tanto adoro, que me viu nascer, crescer e fazer-me um "homenzinho":), já lá vão 54 anos.
No entanto confesso que há muito me acompanha a ideia de um dia sair daqui para sempre. Gostaria de acabar os meus dias num sítio sossegado, longe de tudo e de todos.
A família diz que "sou maluco"...mas acho que não.
Não desisto deste sonho.

Tudo de bom.

gaivota disse...

regresso às origens!que bom... conservar o cantinho que nos mostrou o primeiro sol e os aromas da terra e ...mar, qoraue não?lindas fotos, minha amiga!
beijinhossssssssss milessssssss

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

por vezes sabe bem regressar às origens, ou pelo menos visitar.

as fotos sãp belissimas.

um beij

Branca disse...

Ai Isabel, que bom minha amiga!
Isso sim é qualidade de vida e não o contra-relógio das grandes cidades. São lindos de pasmar os montes das tuas origens e foi tão bom para mim recordar estes versos de Guerra Junqueiro que aprendíamos na escola e quase sei de cor.

Aproveita minha amiga esta paz, esta tranquilidade e as pessoas boas que te rodeiam e dá um beijinho meu à Maria, ela também vai adorar passar de vez em quando um tempo em contacto com a natureza.

Eu parti, mas nunca por aqui, onde regresso sempre.

Beijinhos para ti.
Branca

Idanhense sonhadora disse...

Lindo o poema de G.Junqueiro Como ele traduz bem um estado de alma que a muito de nós . Também eu estou de partida para onde estão as minhas raízes ....Pena que não seja definitivamente . Mas , vai saber.me muito bem. Goze essa paz que essa vida de tranquilidade e simplicidade lhe transmite...
Beijinhos
Quina

lagartinha disse...

Parece que não consegui inserir o meu comentário, mas também, comparado com a beleza destas fotos...não era nada de especial...sorte de quem tem Terra a quem chamar de sua...Milhões de jokotones

Maria Luisa Adães disse...

Que bom mudar de ambiente e gostar.

As fotos nos traduzem beleza, carinho, pureza e silêncio...adorei!

Felicidades por lá e apareça por cá

Um abraço,

Maria luísa

Canto da Boca disse...

Uma paisagem de tirar o fôlego!
O poema do Guerra Junqueiro, impecável, não há o que acrescentar. Cada um carrega as suas memórias e saudades.
Deliciei-me com as imagens na barra lateral, totens que retratam de fato e de maneira irrepreensível o seu amor à sua terra. Em qualquer lugar do planeta se associa os cravos à Revolução de Abril; e os apreciadores da boa música, da música que conclama a liberdade, a assunção, consciência política conhece Zeca Afonso.
Me deu uma saudade danada agora daí... Vou escutar o meu cedê de Zeca Afonso.

Belo blogue!

;)

De Amor e de Terra disse...

Minha querida Isa, obrigada por re-lembrares Guerra Junqueiro e aqueles que tu e eu (já muita vez o comprovei) tanto amamos "Os simples" da nossa vida,
Bjs. Amiga
M.M.

Parapeito disse...

belo momemto este
como eu percebo as suas palavras
tambem gostava de poder deixar a confusão e ir para onde me sinto realmente berm...mas ainda nao é tempo...só la posso ir...para matar saudades.
Tudo de bom para si nesse bonito cantinho.
brisas doces***