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No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
"Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal..."
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Eugénio de Andrade
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Agora que morreste MãeE só em mim te tenho
Sou mais que o meu tamanho
Porque sou tu também
Tuas mãos afagam as minhas mãos
De quem são estes gestos esta pele?
Nunca me deste irmãos
Só contigo reparto o meu farnel
De quotidianos fardos e alegrias
Breves e desta brasa em chaga
Que é a tua ausência nos meus dias
Órfãos mas sempre ao colo desta mágoa
De não te ter de te ter sido esquiva
De não te ter nunca aberto as portas
Do meu ser de nunca te ter dado vivas
O que hoje já só são carícias mortas
Teresa Rita Lopes, Cicatriz
10 comentários:
Já conhecia o primeiro, mas o segundo não. Bonitos os dois.
Abraço do Zé
Como me comovi ao ler os dois poemas... Tenho saudades da minha mãe...
Um beijo.
Mãe..
"Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do Céu
E apenas menor que Deus!"
(Mário Quintana)
tão infinita em sua grandeza que mesmo ausente em terra, vive eternizada em nossos corações!
lindíssima homenagem!
Grande abraço!
Minha cara Isabel
Cito de cor:
Respira, pois, seiva da duração
nos meus pulmões até, se te cansaste,
mas que eu sinta bater o coração
no peito onde em pequeno me embalaste!
Miguel Torga
Eu daria os meus dois pulmões para isso!
Um grande abraço
Saudades. Se bem...
Beijinhos.
Disse que gostava de Eugénio Andrade, e eu fiz um Post para Domingo....No entanto,é já a segunda vez que leio
este poema, nesta ronda pelos Blogs...
Mas eu também gosto, e vou Postar na mesma....
Abraço
Isamar,
Num tema inesgotável, a escolha denota grande sensibilidade e bom gosto.
Beijo :)
Não conhecia o segundo poema, que apreciei muito.
Mas este poema de Eugénio de Andrade é talvez a mais bela poesia dedicada a uma Mãe.
Como eu a entendo Isa , todos os dias tenho saudades da minha e já passaram 10anos ,duma tarde quente de julho que ela "adormeceu" nos meus braços...
Bj
Quina
este poema de eugénio de andrade traz-me uma dor... uma saudade imensaaaaaaaa
o da teresa rita não conhecia, mas é imenso!!!
bem hajas, querida
beijinhossssssssss milessssssssssss
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