segunda-feira, 6 de abril de 2009
Eu Sou Português Aqui
Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.
Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.
Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.
Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.
Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.
Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.
Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.
Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.
Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.
Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.
Eu sou português aqui
José Fanha
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14 comentários:
Lindo e forte o Poema do meu querido José Fanha.Já ñ o vejo há
uns tempos,mas trabalhámos juntos
na Escola Secundária nº1de Loures,
agora Secundária José Afonso.
Este poema é,digamos,o ex-libris do
Fanha.
Bem hajas,Amiga,por este belíssimo
post.
Boa Semana.
Beijo.
isa.
É lindíssimo e sentido este poema de José Fanha. Obrigada por o partilhares aqui...
Um beijo.
Amiga, que lindo este poema que eu não conhecia.
E estamos em Abril de novo. E todos os anos as nossas esperanças se renovam, mas depois Abril passa e volta o nosso desalento.
Um abraço e...foi ao médico?
Lindo Poema! Uma boa escolha para este mês de Abril.
Uma Páscoa Feliz
Há anos que não relia este poema em crescendo, típico do Fanha
(cantava pessimamente mas dizia bem poesia) que teve por role model o incontornável estilo de Ary.
É um poema em força, como um hino que se marca com os pés enquanto se canta, um grito panfletário, revolucionário, e com algumas boas frases poéticas à mistura.
É o que penso.
Um abraço para ti.
eu sou português aqui!
agora estou a ver o comentário da isa... é que eu moro perto de loures, conheço o zé muito bem, duas das minhas filhas ainda andaram no liceu em loures...
bem, tanto por dizer!
mas do zé fanha, sempre a louvar o seu jeito de escrever, falar e dizer bem forte o que lhe vai na alma!
parabéns!
beijinhosssssss grandessssss
de abril!
Amiga
Nunca apagaria os teus beijos. Ao ler este texto lembra-me como se fosse hoje da revolução da fraternidade e solidariedade o meu pai sempre foi menbro do PCP e é claro que embora fosse nova inscrevi-me nos pioneiros.Foi talvez uma época das mais bonitas da minha vida.Lembrei-me de uma estrofe de uma música de Zeca Afonso que te quero oferecer.
Com um beijo
Já podes passar pelo meu espaço está lá um novo post jocas
"Há toda parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas"
Eu sou Prtuguesa aqui
do outro lado, admirando.
A forma de amor por um ideal de soldado da vida, que luta e acredita na transformação do conquistado e já esquecido pelo tempo.
A esperança é sentimento humano,
só muda o idioma.
Lindo!
Bjs
Eu sou português, não nasci em Abril mas sinto-o no meu coração. Não pretendo aceitar que tudo volte ao antigamente, aos tempos que vivi e de que não gostei.
Como Fanha, eu sou português e estou aqui!
Cumps
Foi bom recordar este poema muito forte do José Fanha!
bjinhos
Esperança
E viva Abril!
http://simecqcultura.blogspot.com/
Sou portuguesa não daqui
Cresci longe do reino do medo
Mas ainda assim,
"trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito"
:-)
Urge manter vivo Abril, e o seu blog este mês tem-lhe dedicado o devido espaço/tempo!
Por onde tem andado este poeta?
Ainda bem que o ressuscitaste...
Beijinho.
Foi à 35 anos que Portugal vez a revolução diferente de todas as outras com cravos em vez de balas ,com musica e alegria. Ainda haverá esperança??
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação.
Zeca afonso.
Vamos continuar a ter esperança, amiga
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