quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen



Nascida a 6 de Novembro de 1919, faria hoje  95 anos se cá estivesse. É certo que todos ficámos mais pobres com a sua partida mas deixou-nos a sua obra. Riquíssima obra! Quer em verso, quer em prosa, ela faz as delícias de todos nós. Os seus contos para a infância são lindíssimos , os seus poemas fascinam-nos. Mas há mais. Muito mais! O espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen foi doado pela família da escritora à Biblioteca Nacional, em Lisboa e é lá que está à disposição dos leitores..
Maria Andresen, filha da poeta, descreveu o espólio, dizendo que são cartas, cadernos com alguns dos primeiros esboços de poemas, agendas, diários, desenhos e recortes de jornais.
O material esteve guardado no Centro Nacional de Cultura, onde foi analisado pela filha de Sophia e Manuela Vasconcelos.

Excerto de um texto recentemente recuperado:


"Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite.
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.

Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico."

O poema referido está intitulado «Primeira noite de Verão». No fim da folha, à direita, está a indicação «Porto, 9-V-1934».




O poema


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Engraçado que estava para fazer um post sobre ela hoje para o "A mulher e a poesia" Sabe que esta semana para comemorar o seu aniversário será reeditado o livro de poemas "Dual" e o conto "A noite de Natal"?
Vi ontem quando estava a pesquisar para o post.
Um abraço

Anónimo disse...

Memórias que o tempo não apagará.

Tudo de bom!

Andradarte disse...

Sobre as fotos...já lá expliquei nos comentários ao José Patrício....

Gostei do Post sobre Sophia
Será o espolio transferido para livro?? Aguardemos...
bfs
Beijo

AC disse...

Sophia, que algumas pontes me fez vislumbrar...
Um belo post, Isamar!

beijo :)