quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A campainha do portão soou. Os cães acorreram em latidos que se ouviam pela vizinhança. É sempre assim quando chega alguém.Caminhei na direcção da entrada, abri a portada de madeira com cautela, não fossem eles até ao portão de ferro, e vi a vizinha com um cesto carregadinho de marmelos. É assim aqui no campo! Tudo quanto colhem é partilhado pela vizinhança. Pedia desculpa pelo incómodo, vejam só, mas o Chico colhera os marmelos e havia que distribuí-los. É tempo de fazer a marmelada que, depois, é guardada em tigelinhas e vai fazendo as delícias dos dias e das noites de Inverno. À lareira, sabe muito bem um chá bem quentinho e uma fatia de pão com este doce caseiro. Mas a vizinha trazia ainda uma dúzia de ovos, das suas galinhas, e um pão, quentinho, saído do forno. Fora também dia de amassadura. Levantara-se às quatro da madrugada para amassar. Uma alguidarada! Fez pão para quinze dias. Ainda estivemos um pouco à conversa. Falou-se da chuva, mais ou menos intensa que tem caído nos últimos dias, da apanha da alfarroba que não tem sido como desejava, por isso mesmo, porque a chuva não deixa e inevitavelmente das dores que vão atrapalhando os movimentos.O sol rompera por entre as nuvens esparsas e aquecia bastante. Lá partiu em busca do seu Chico para continuar a labuta das terras, dos animais que cria além das galinhas, da arrumação da casa e dos anexos. Eu regressei às minhas tarefas.

9 comentários:

DE-PROPOSITO disse...

Que texto! Retrata (por aqui) a vivência de há quarenta anos. Possívelmente, aí na serra, esses costumes ainda perduram.
Pela foto, dos marmelos, aparenta ser gamboas. Uma variedade mais doce, que os fabricantes de marmelada (industriais) não querem.
São boas para comer cruas, porque são tenrinhas. Agora, com a chuva, se não forem apanhadas, apodrecem dum dia para o outro.
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FELICIDADES
Manuel

Lilá(s) disse...

Olá, bem-vinda!
Agora também tenho a oportunidade de estar mais em contacto com a vida do campo e estou a adorar essa partilha! mal vêem o carro estacionada á porta há logo alguém que vem trazer, uns ovinhos, uns legumes etc...fico encantada!
Bjs

Elvira Carvalho disse...

Ora bem até que enfim regressou.
O texto retrata as vantagens de quem vive no campo. Na cidade as pessoas não partilham nem os bons dias.
Agora é fazer marmelada, que a marmelada dá mais cor à vida. Com os marmelos e não só.Rsrsrs
Um abraço e vamos a ver se não esperamos dois anos pelo próximo post.

Anónimo disse...

Um regresso, à escrita no blogue, em grande!

Atrevo-me a dizer que senti-me em casa. ;) :)

Não vivo no campo, ou num ambiente igual ao aqui deliciosamente descrito, mas sei muito bem o que é essa partilha e a forma de estar de gente maravilhosa.

Um cestinho com ovos, uns marmelos, e ás vezes umas simples flores... são gestos habituais (e normais) que costumam acontecer à minha mulher que trabalha fora da cidade, junto de gente do campo, que ela tão bem conhece e... cuida, já lá vão mais de trinta anos.

Tudo de bom!
:)
;)

Petrus Monte Real disse...

Isamar:

Nem queria acreditar!

Só depois de ler a crónica,
bela como sempre,
fiquei convencido!

Tinha saudades!

Na minha memória
tenho bem presentes os gestos, movimentos, sons,
sentimentos de reconhecimento e gratidão,
que tão bem descreves!

Os bons costumes e
a verdade na tradição
alimenta-nos a alma!

Um grande abraço de amizade.

Manuel Luis disse...

São gestos dos tempos bons! Ter uma vizinha assim deve sentir um grande orgulho. Bj

São disse...

Bem regressada sejas, que já não era sem tempo!!


Abraço grande e feliz semana :)

Andradarte disse...

.....e eu regressei à minha
Terra...,em deliciosos pensamentos....
Bem vinda
Beijos

jorge esteves disse...

E, assim, as coisas parecem (e são...) mais simples. Sobretudo, mais coloridas...
Abraço!