quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Cata-Vento


De construção muito simples, o cata-vento é composto por uma lâmina que gira em torno de um eixo pela acção do vento. Vem desde os tempos dos gregos e além de indicador da direcção do vento serve ao mesmo tempo de ornamento. Durante a Idade Média começa a ter grande difusão e aparece usualmente como remate das torres das igrejas. Começou por ser um sinal de nobreza e só as casas nobres, eclesiásticas e militares tinham o direito de o possuir. Em termos ornamentais, e sobretudo a partir dos sécs.XV e XVI, os motivos são os mais variados: anjos, setas, temas mitológicos, barcos, insígnias eclesiásticas, animais, etc. Os temas náuticos, como barcos, peixes, sereias e outros, são muito vulgares nas cidades ou vilas portuárias.Um dos motivos usuais era o arcanjo S.Miguel ao qual se atribuía a protecção ao raio. No entanto, o galo aparece com mais frequência e ainda nos dias de hoje. Recordava ao clero a vigilância e lembrava ainda o arrependimento de S.Pedro. Além disso, desde sempre que o galo era considerado profeta do tempo e o seu canto afugentaria os maus espíritos e todas as calamidades. Mais recentemente, além das torres das igrejas, podemos ver cata-ventos em moinhos, faróis e outros tipos de construções. Além da lâmina ,alguns têm também indicação dos quatro pontos cardeais.





Cata-Vento

Vento do Sul,
moreno, ardente,
vens sobre minha carne,
trazendo-me semente
de brilhantes
olhares, encharcados
de flores de laranjeira.

Tornas vermelha a lua
e soluçantes
os álamos cativos, porém vens
demasiado tarde!
Já enrolei a noite de meu conto
ali na estante!

Sem nenhum vento,
presta-me atenção!
gira, coração;
gira, coração.

Vento do Norte,
urso branco do vento!
Vens sobre minha carne
tiritante de auroras
boreais,
com teu manto de espectros
capitães,
e rindo-te, aos gritos
do Dante.
Oh! polidor de estrelas!
Porém vens
demasiado tarde.
Meu armário está musgoso
e lhe pedi a chave.

Sem nenhum vento,
presta-me atenção!
gira, coração;
gira, coração.
Brisas, gnomos e ventos
de nenhuma parte.
Mosquitos da rosa
de pétalas pirâmides.
Alísios desmamados
entre as árvores rudes,
flautas entre a tormenta,
deixai-me!
Possui fortes cadeias
minha recordação,
e está cativa a ave
que desenha com trinos
a tarde.

As coisas que se vão não voltam nunca,
toda a gente bem sabe,
e em meio à clara multidão dos ventos
é inútil queixara-se.
Choupo, maestro da aura, não é certo?
É inútil queixar-se!
Sem nenhum vento,
presta-me atenção!
gira,coração;
gira, coração.

Federico Garcia Lorca

Granada 1920

16 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Interessante esta explicação como introdução do poema de Frederico Garcia Lorca. Ou o poema veio ilustrar o post, bem seja como for gostei muito. Adoro Lorca.
Um abraço que vou ali abaixo conhecer aquele casal que ainda não tinha visto.

João Roque disse...

É realmente uma associação feliz, esta do cata-vento e do poema de Lorca.
Beijinho.

Anónimo disse...

Fica aqui a promessa, que no meu próximo periodo de férias (1 a 15 SET), vou andar de "nariz no ar" e objectiva na mão, para fotografar um (ou todos) cata-vento para te enviar :):)

Em Julho, quando gozo o meu primeiro periodo de férias, a primeira coisa que faço quando acordo é olhar para o Galo (cata-vento) junto da minha janela e verificar de que lado vem o vento ;)

Bons ventos.

Tudo de bom

Manuel Veiga disse...

gosto dos galos emplumados nos campanários...e da cataventos.

Lorca, excelente. sempre...

beijos

amigona avó e a neta princesa disse...

Adoro o cata-vento! Nunca percebi bem porquê mas fico sempre a olhar, a olhar!
Deixo-te um abraço apertado...

gaivota disse...

vento norte fresquinho
vento sul, suão e tráz chuva
é a sabedoria dos nossos homens do mar, como um cata-vento...
e loraca até sabe o que diz!
milessssssss beijinhosssssssssss
sempre com muito carinho

Unknown disse...

Isamar,

e o vento sopra a liberdade fazendo girar o catavento!!!!
E os nossos olhos seguem-no sempre!!!!!

Que bom estares aqui!!!!

Bjkas!

bettips disse...

Eu que tinha dito que te (re)encontrei algures, venho por Lorca e pelas andanças dos ventos do sul. Música sempre propositada para acordar as brisas.
Bjinho

Lilá(s) disse...

Gosto de cata-ventos e como há tantos e tão diferentes!
bjs

Vicktor Reis disse...

Querida Isabel

Que belo poemas de Lorca que aqui connosco partilhas. Autor que muito prezo e que me conduz a memórias extraordinárias.

O tema, como sabes, é da minha predileção... e hoje ainda te vou enviar um catavento que tive oportunidade de fotografar há algum tempo na Enxara do Bispo e que adoro pela sua rusticidade.

Obrigado por este belo momento.

Beijinhos.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Isamar, bela fotografia...Belo poema de Lorca...Espectacular....
Beijos

lagartinha disse...

Cata-vento para mim, era assim tipo uma coisinha gira para enfeitar telhados...ai santa ignorância!
Bejokotones

Filoxera disse...

Não apreciei apenas a lição, mas também a colecção de cata-ventos que aqui tens.
Beijinhos.

EDUARDO POISL disse...

FELICIDADE!

Quando o vento bater à sua porta,
Abra devagar,
Para deixa-lo entrar
Pense quanto de bom poderá receber,
Se estiver pronto para tal,
Mas as conquistas diárias
Estamos sempre apostando tudo
e a cada recomeço,
Percebemos, o quanto é gratificante,
Estar pôr perto de quem se gosta de verdade,
Sua simpatia,
Corresponde o momento de felicidade
e transborda de alegria
o coração de quem recebe.

(Roseli Alcântara)

Desejo toda a felicidade neste domingo.
Um grande abraço.

Maria Emília disse...

Muito bonitos os Cataventos. Não perco oportunidade de fotografar um quando o encontro.
Um beijinho,
Maria Emília

GS disse...

... mas que interessante toda a simbólica do cata-vento! E logo a par de Garcia Lorca! Excelente 'post' o teu!

Talvez pelo tema, hoje apreciei mais demoradamente os cata-ventos que ladeiam teu espaço! Lindos!

Um beijo,
Sensibilizada pelo teu amistoso olhar sempre tão presente em 'fragmentos'!