sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Louvor do Revolucionário


Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?

Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.

Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.

Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.

Bertold Brecht




Eugen Berthold Friedrich Brecht é um dos autores alemães mais importantes do século XX, especialmente nas suas facetas de dramaturgo e de poeta. De formação marxista, Bertolt Brecht dava grande importância à dimensão pedagógica das suas obras de teatro: contrário à passividade do espectador, sua intenção era formar e estimular o pensamento crítico do público. Para isso, servia-se de efeitos de distanciamento, como máscaras, entreactos musicais ou painéis nos quais se comentava a acção. Brecht expôs em escritos de carácter teórico e encenações modelares essa nova forma de entender o teatro. O reconhecimento de sua genialidade chegou muito depressa: em 1922, foi concedido ao jovem Brecht o prémio Kleist por Tambores da Noite. No entanto, no princípio dedicou-se à assessoria artística, trabalhando, por exemplo, para o Teatro Alemão de Berlim, de Max Reinhard, entre 1924 e 1926. Brecht consolidou-se como escritor independente logo após os musicais Ópera dos Três Vinténs (1928) – que bem mais tarde inspiraria a Ópera do Malandro, do brasileiro Chico Buarque de Holanda – e Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1930), escritos em colaboração com o compositor Kurt Weil. A crítica social contida nessas obras e seu humor cínico causaram escândalo na República de Weimar alemã. A ascensão ao poder dos nazis marcou o início de uma longa odisseia para Brecht, que, no final, o conduziu à Califórnia, onde permaneceu até ao final da guerra e onde escreveu muitas das suas famosas obras teatrais: Galileus Galilei (1938), que aborda a responsabilidade da ciência, dando três pontos de vista distintos nas suas três versões; a peça antibelicista Mãe Coragem (1939); A Boa Pessoa de Setzuan (1941). Em colaboração com Lion Feuchtwanger, em As Visões de Simone Machard, transportou para a época da Segunda Guerra Mundial o mito de Joana d´Arc, personagem que já tinha abordado em 1930 em Santa Joana dos Matadouros, que só estreou em 1959. A obra contra Hitler, A Ascensão Irresistível de Arturo Ui, escrita no exílio na Finlândia, em 1941, só estreou depois da morte de Brecht. Após o regresso à Alemanha Oriental, fundou –- e, a partir de 1949, dirigiu, conjuntamente com sua mulher –- o Berliner Ensemble, onde se encenavam principalmente as suas obras. Tal como as peças de teatro, a obra lírica de Brecht, publicada em quatro colecções, contém uma importante carga de crítica política e de ironia, embora também tenha composto poemas de amor muito pessoais. São especialmente conhecidas as Histórias do Sr. Keuner, colecção de breves episódios, que escreveu desde 1930 até a sua morte e foi publicada em 1958.


Morreu a 14 de Agosto de 1956.


10 comentários:

Vicktor Reis disse...

Querida Isabel

Que bela homenagem ao poeta e dramaturgo Bertold Brecht e que tão bem vi representado em diversas salas do nossos teatros...

A sua mensagem deveria ser lida, interpretada e entendida pelos políticos portugueses que no governo dizem defender os aspectos sociais da nossa sociedade...

A minha esperança está em que o desassossego ("Fica lá o desassossego") ainda germine no sentir do Povo.

Beijinho.

João Roque disse...

Obrigado por esta partilha da homenagem a um homem tão importante na cultura do século XX.
Beijinho.

Elvira Carvalho disse...

A primeira vez que me falaram de Brecht foi em 65 quando trabalhava em Lisboa no Laboratório. Tinha uma colega espanhola, que adorava Brecht e que tinha tudo dele em lingua espanhola. E foi em espanhol que eu que eu tomei contacto com a sua obra, como foi em espanhol que eu li grandes obras que eu não podia comprar e que ela não se importava de emprestar. Como a Eneida, de Virgílio ou o Mercador de Vezena do Shakespeare.
Um abraço e bom fim de semana

vieira calado disse...

Obrigado pela partilha.

É bom recordar estes homens.

Cumprimentos meus.

Lilá(s) disse...

Fabulosa esta homenagem! obrigada por esta partilha, saio sabemdo um pouco mais.
Bjs

Filoxera disse...

De tudo isto, apenas sabia uma pequena parte. Obrigada pela lição.
Beijos.

Anónimo disse...

Linda homenagem e merecida!
Como admiro esse Homem Verdadeiro.
Beijo.
isa.

amigona avó e a neta princesa disse...

Lindo o que fizeste! Obrigada por recordares, amiga...hoje as suas palavras estão tão actuais!!!
BEIJOS querida...

Anónimo disse...

Ora digam lá...este Cata-Vento, tem mesmo muita "pinta" :) É que num dia cinzento como o de hoje (na minha terrinha), eu chego aqui, levo com uma delicada brisa de partilha e conhecimento. Vou todo contente de mãos nos bolsos, assobiando de satisfação. Aprendi mais um pouco.

Bem hajas.

Tudo de bom.
Boa semana!

gaivota disse...

uma linda homenagem...
mensagem entendida por quem de direito!
deixo-te muitosssssssss beijinhosssssssssss e voltarei...