sábado, 7 de fevereiro de 2009

Quero um mundo novo. A sério!


Considerado um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado por ter sido simples, humilde, semi-analfabeto e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
No emaranhado de uma vida recheada de pobreza, mudanças de emprego, imigração, tragédias familiares e doenças, na sua figura de homem humilde e simples, havia o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, polícia e servente de pedreiro, trabalho este que, como imigrante, foi exercido em França.
De regresso ao seu país natal, restabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, actividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de "poeta-cauteleiro".
Faleceu de tuberculose, em 16 de Novembro de 1949, doença que tempos antes havia também vitimado uma de suas filhas.

Vós que lá do vosso Império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério.

Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão

Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!

Sem que discurso eu pedisse,
ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.

Os que bons conselhos dão
às vezes fazem-me rir
por ver que eles mesmos, são
incapazes de os seguir.

Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes -- esqueceste
tudo o que prometias...

Por que a vida me empurrou
caí na lama, e então...
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
imagem e textos tirados da net

23 comentários:

Cadinho RoCo disse...

Os versos do poeta são fortíssimos. Muito bons.
Cadinho RoCo

Anónimo disse...

Grande e sábio poeta popular!
Quantas vezes o meu Pai ñ deu exemplo das suas quadras? De bem novinhas aprendemos a respeitar António Aleixo,a conhecer e a saber
entender a mensagem meio escondida!
Também eu queria tanto um mundo de verdade!Novo,sem ódios,nem mentiras.
Estou melhor,pq.tento reagir sempre.Mas sinto a falta dos pequenitos.Do meu Bastão(qdo ñ sabia dizer Sebastião...)então...até dói.
Mas nesta semana estarão comigo.
Bejinho à tua Maria linda.
Beijoo.
isa.

gaivota disse...

o grande poeta do povo, sábio da vida, ler hoje este poema desperta ainda mais uma vontade enorme de dizer basta a umas quantas pessoas que vivem pejadas de mentiras e ódios e raivas... e fazem disso princípios de vida! transportam todas as coisas enraivecidas onde quer que se apresentem...
grande antónio!
bom fim de semana
beijinhossssssssssssssss

João Roque disse...

Na parte perdida do meu blog tinha uma entrada dedicada a este grande poeta popular; talvez ainda a republique um dia...
Beijinhos.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

sei que pareço um ladrão
mas há muitos que conheço
que não sendo o que são
são aquilo que pareço
A. Aleixo

abraço amigo


_________ JRMarto

pico minha ilha disse...

Também quero, com mais amor e amizade entre todos.Beijinhos e bfs

Iscte 72-77 disse...

Óptima escolha como sempre. Grande poeta com nobreza de carácter....coisa em desuso-
BFSemana

Jorge P. Guedes disse...

O magnífico cantar simples e autêntico de Mestre Aleixo!

Fica bem na era actual e quem dera que por cá ainda estivesse.

Um abraço e bfds.

jo ra tone disse...

Gosto de ler este tipo de versos
Directos, objectivos.
Eu tb quero!
Sério!
Beijinho

Anónimo disse...

No mínimo, que a corrente nos "leve" a...bom porto.
Enquanto há vida há esperança.
Tudo de bom ;)

Elvira Carvalho disse...

Amiga, se Aleixo fosse vivo, com a sua inspiração e a conjuntura actual, decerto sairia pelo menos mais um livro.
O que mais dói é que os anos passam e Aleixo, Eça, e outros escritores, criticos do seu tempo, continuam actuais como se estivessem vivendo neste momento.
Um abraço e bom fim de semana

Anónimo disse...

Só para te desejar bom Domingo.
Beijo à Maria.Como a achaste,Vóvó?
"A gente" quer trazê-los connosco,
verdade?
Deixo-te o meu sorriso(o meu Nuno
emocionou-me...Ai,esta sentimental!).
Beijoo.
isa

Fá menor disse...

Como eu também gostaria de um mundo novo!

Por isso talvez levante voo, aqui, onde te convido a visitar:

http://escritariscada.blogspot.com

Bom domingo

Beijinhos

Cadinho RoCo disse...

Retorno porque gosto daqui.
Cadinho RoCo

Filoxera disse...

Também digo!
Beijinhos.

JOFRE ALVES disse...

Também eu, também eu! Este poeta popular, apesar de analfabeto, era um caso sério de poeta repentista, com uma verdade constante na ponta da língua! Um sábio! É preciso recuperar o espírito faterno e revolucionário do poeta Aleixo, urgentemente!

Fernando Santos (Chana) disse...

Belo poema...Espctacular...
Um abraço

GS disse...

... como Aleixo sabia ir 'certeiro' aos problemas, às pessoas...

Sensibilizada pelo olhar muito atento em 'fragmentos'!

lagartinha disse...

Nada mudou em anos, a não ser talvez a capacidade das pessoas de perceber isso mesmo...mas na verdade, não tem servido de nada...
Bejocas

amigona avó e a neta princesa disse...

Como diz a Elvira, parece que está vivendo! Beijos, amiga...e saudades...

amigona avó e a neta princesa disse...

E obrigada pelos selinhos! Logo que possa eu levo! Beijos...

gaivota disse...

venho desejar uma boa semana para ti, e reler mais uma vez o antónio aleixo que aqui nos trouxeste
é muito bom chegar aqui...
beijinhos grandesssssssssss

Mare Liberum disse...

A todos quantos por aqui passaram e deixaram o seu comentário, deixo os meus agradecimentos. Bem-hajam pela vossa simpatia e disponibilidade.

Beijinhos