quinta-feira, 1 de janeiro de 2015




A todos os meus amigos desejo um Ano Novo feliz. Todos sabemos que a vida não está fácil mas não percamos a Esperança, o sorriso nos lábios, o amor no coração, a solidariedade para com o nosso semelhante. Que todos tenhamos saúde, assim como os nossos familiares, trabalho e muita força para ultrapassar as situações mais difíceis. Beijinhos para quem é de beijinhos e abraços para quem é de abraços.



Recomeçar


Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...


Miguel Torga

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



Chegou hoje, em jeito de presentinho natalício, e, sem meias medidas, afastou o Nino, o gatinho cinzento de que já aqui vos falei, e começou a comer da sua malga. E até encheu a barriguinha apesar da enorme algazarra dos cães! Muito atento ao que se passava em seu redor não fosse aparecer mão inimiga. Mas não apareceu! E comeu bem. Só que o Nino, afastado da sua malga, tinha de comer. E preparei-lhe outra, longe da primeira, onde ele se refastelou até que , finalmente, partiu. Virá lá para a tardinha, soltará os seus "miaus" e lá vou eu servir-lhe o seu pitéu. Ração seca misturada com ração húmida. Pois, agora questiono-me, será que em breve virá um terceiro, e depois um quarto, e um quinto? Terão donos? Penso que o Nino não tem pois se o tivesse não chegaria aqui sempre de barriga vazia. Finalmente tenho gatos! Não imaginam a "festa" que por aqui vai mas, um dia, espero, viverão pacificamente neste espaço. Feliz Natal a todos! Atenção esta não é a gatinha/ o gatinho recém-chegado mas era impossível tirar-lhe uma fotografia.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen



Nascida a 6 de Novembro de 1919, faria hoje  95 anos se cá estivesse. É certo que todos ficámos mais pobres com a sua partida mas deixou-nos a sua obra. Riquíssima obra! Quer em verso, quer em prosa, ela faz as delícias de todos nós. Os seus contos para a infância são lindíssimos , os seus poemas fascinam-nos. Mas há mais. Muito mais! O espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen foi doado pela família da escritora à Biblioteca Nacional, em Lisboa e é lá que está à disposição dos leitores..
Maria Andresen, filha da poeta, descreveu o espólio, dizendo que são cartas, cadernos com alguns dos primeiros esboços de poemas, agendas, diários, desenhos e recortes de jornais.
O material esteve guardado no Centro Nacional de Cultura, onde foi analisado pela filha de Sophia e Manuela Vasconcelos.

Excerto de um texto recentemente recuperado:


"Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite.
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.

Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico."

O poema referido está intitulado «Primeira noite de Verão». No fim da folha, à direita, está a indicação «Porto, 9-V-1934».




O poema


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen