sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Alportel



É um pequeno sítio do concelho de S. Brás de Alportel, distrito de Faro, implantado na beira-serra aqui onde o Caldeirão inicia a subida em direcção ao Alentejo. Supõe-se que a designação tenha origem árabe e signifique passagem estreita, portinhola, que liga o Algarve a outras regiões. Sabe-se que na primeira metade do século XX, quando "a praia ainda não estava na moda", muitas eram as famílias que, nos meses de Verão, debandavam em busca dos bons ares da localidade onde, nas redondezas, viria a ser construído o sanatório Carlos Vasconcelos Porto, hoje extinto. Felizmente! Significa que a tão terrível doença que a muitos colheu na flor da idade, a tuberculose, foi debelada com sucesso. Vinham de toda a parte. Desde o litoral algarvio ao Alentejo, famílias inteiras alugavam casa ou instalavam-se em casas de amigos e aqui desfrutavam de tudo quanto de bom a Natureza oferecia. Eram as águas férreas que brotavam das entranhas da terra, o mel do Caldeirão, os figos, as amêndoas, os legumes e , sobretudo, os enchidos, o bom pão caseiro, de trigo, a carne de porco, os ensopados de galo, os "jantares" de feijão com repolho toucinho entremeado e linguiça, de grão com batata, abóbora cortada em pedacinhos, onde também não faltava a carne de porco, a açorda com ovos escalfados poejos da ribeira ou coentros... Tudo cozia lentamente em fornalha de lenha durante duas ou três horas. As merendas eram ricas e variadas: pão com manteiga acompanhado de um belo cacho de uvas, pão com presunto, paio ou queijo caseiros, bolos secos, figos, amêndoas, nozes...
Esta terra era um paraíso e ainda é. Rodeada de arvoredo,pinheiros, sobreiros, azinheiras, eucaliptos ( quem não se lembra de ter visto nos vários canais de televisão o incêndio que há quatro anos dizimou grande parte do parque florestal serrano?)é um cantinho convidativo ao descanso, à leitura, aos passeios pelos trilhos que nos permitem aceder aos cantos mais longínquos e paradisíacos deste pequeno lugarejo que nos fascina ao primeiro contacto. A fonte férrea é a zona mais conhecida e em boa hora a câmara municipal a dotou de um parque de merendas bem equipado. Não há quem lhe resista a voltar uma segunda vez ou mais e de farnel na mão passe umas horitas a ouvir o murmúrio das águas, quais mouras encantadas, o rumorejar das folhas das árvores, muitas delas seculares,o canto dos pássaros que esvoaçam à nossa volta para debicar alguns bocadinhos dos manjares que estamos a degustar.
Esclareço que gosto deste lugar em qualquer estação do ano porque a sua riqueza natural é tanta que nos fascina quer quando a ribeira vai cheia e o céu está cinzentão quer quando as suas águas estão calmas. Resistir a molhar os pés, as mãos, a cara é tão difícil quanto enfrentar um doce apetitoso sem lhe dar uma trincadela.
O largo principal, chamado da Venda Nova, designação que não sei explicar mas que talvez se deva à abertura de uma venda nos finais do século XIX (?),tem um café onde se pode descansar, e tomar o que qualquer café pode oferecer assim como um mini-mercado onde não faltam os legumes ou as frutas frescas além de outros produtos. Há ainda a Sociedade Recreativa Alportelense e outro café . Se puder visitar a Igreja de S. José, o único templo existente no sítio do Alportel, faça-o mas não perca uma visita ao Centro Museológico que lhe fica mesmo ao lado. Fica a conhecer melhor estas gentes hospitaleiras. Eu delicio-me a ouvir as horas tocadas pelo sino e as meias-horas. Fazem-me remontar a tempos muito felizes em que todos éramos primos e primas e a união existente era uma força inabalável desta população.

12 comentários:

Anónimo disse...

Bom Dia!
Deve ser um sítio muito agradável
para visitar.
Obrigada pela partilha.
Beijo.
isa.

José Lopes disse...

Excelente divulgação do património natural.
Cumps

Andradarte disse...

Que bela descrição de mais um Belo Lugar do Alentejo de que muito gosto
Beijo

Andradarte disse...

Fui traido pela leitura pouco atenta,
ao iniciar com....

..... beira-serra aqui onde o Caldeirão inicia a subida em direcção ao Alentejo.

Pois passei férias no Algarve, mas não saia da zona da Fuzeta...
Desculpas

gaivota disse...

é verdade, todos primos e primas, nestes meios de aldeia ainda viva!
e o pão quentinho com manteiga... presunto, salpicão, chouriço, queijo... hummm, que fome me dá!!!
não vou muito a sul, como sabes, mas gosto muito destes recantos com cheirinho de sempre!
temos espaços tão maravilhosos aqui no nosso cantinho, pena que estejemos tão mal frequentados!
bem hajas, pela boa divulgação, minha querida amiga
beijinhosssssssssss milesssssssss

Anónimo disse...

S. Brás de Alportel, conheço sim senhora :):)
Todos os anos (na época das férias)passo por lá para visitar uma amiga, tomar um café, dar dois dedos de conversa, comer um doce regional e ás vezes...beber um licor de alfarroba :);):)

Vou estar atento quando lá voltar, à tua sugestão tão bem partilhada neste cantinho.

Tudo de bom.

Boa semana.

Isamar disse...

Ó Flores, também tens uma amiga em S. Brás de Alportel? Não fico nada admirada pois com essa simpatia toda vais criando amizades por onde passas. Beijinhos

Lilá(s) disse...

Coneço bem, dantes passava todos os anos uns dias no Algarve e visitava os arredores, agora porque continuo a gostar de explorar os recantos que o nosso Portugal tem.Escapa-me esse café! fica para a próxima...
Beijinhos

amigona avó e a neta princesa disse...

Fiquei com uma vontade danada de fugir para lá...beijos amiga...

Elvira Carvalho disse...

Tive ocasião de ver o sitio embora de passagem como sabe. Os usos e costumes que descreve, levam-me a pensar que me parece que neste momento as pessoas estarão a viver pior do que nessa época. A não ser claro aquelas que teem um terreno de onde possam tirar isso tudo.
Um abraço amigo.

João Roque disse...

Que bom partilhares estas coisas connosco. Fez-me tão bem ler isto...

Branca disse...

Olá Isabel,

Como eu estou a gostar de ver este sítio em movimento, com textos como este, que nos fala das coisas boas que a vida contém.

Fico deliciada de te ler.

Beijinhos
Branca