quinta-feira, 19 de novembro de 2009



Palheiros da Serra

A manhã está clara, o sol brilha mas no céu páiram umas nuvens que ameaçam chuva. Estou no sítio serrano onde nasci. Neste concelho do barrocal que vai até à serra, sinto-me entre as minhas gentes embora sempre tenha vivido na cidade. Uma vizinha traz-me ovos caseiros, pequenos, pedindo-me desculpa, vejam só, porque as frangas, muito novinhas, só há pouco começaram a pôr. Outra, vem com uma tigela de marmelada, a segunda deste ano, mas já me havia trazido um frasco, cheiinho, de doce de tomate. Outra ,ainda, chegou com uma caixinha de figos torrados recheados com miolo de amêndoa. Chegam as couves portuguesas da horta do vizinho João, os rábanos, os repolhos, as azeitonas, o milho para o xarém. Ainda há gente desta por aqui! Conheceram bem os meus pais e, sobretudo, a minha mãe, serrana ou montanheira, como costumam dizer por aqui onde estas designações nada têm de pejorativo. Dizem-me que foi uma das mulheres mais bonitas da terra. E bondosa. Para mim foi a mais bonita e bondosa mulher que conheci. A mãe sabia fazer de tudo. Lembro-me de me explicar os problemas de matemática, de fazer concursos de leitura comigo e de perder a paciência quando eu não atinava com as voltas do crochet. E assim continuei. Nem crochet, nem costura, nem tricot...Os serões na aldeia, à lareira, são inesquecíveis. Hoje, somos poucos e relembro com saudade os tempos em que os avós juntavam os oito filhos , outros tantos seus companheiros( as) e netos(as). Eu era a mais nova, a boneca do avô, dizia ele. E era-o mesmo. Sempre o senti. Teria mais de cem anos se fosse vivo. Muito mais. Esta neta já conta cinquenta e muitos e há-os com setenta.A avó Isabel era uma mulher alta para o tempo, mais de 1,70 cm, mas a neta ficou-lhe pelos ombros. No entanto, os feitios eram muito semelhantes. A mesa estava sempre posta para quem chegava, o pão caseiro, o paio, as azeitonas, o presunto não faltavam. Mas havia sempre mais. A mãe tocava bandolim, os tios cantavam e a alegria era rainha. E os momentos de convívio que guardo, têm sempre em comum uma roda de amigos. À mesa, à lareira, na eira no tempo da desfolhada. Outros tempos! Hoje, os amigos não me faltam. Não são muitos mas são uma outra parte da família que não dispenso.Desculpem-me esta inabilidade para falar de outras coisas. Um dia tudo melhorará!Desejo-vos um bom fim-de-semana.

9 comentários:

gaivota disse...

que lindo passeio, minha querida, e o dia está tão bonito, pelo menos aqui na nazaré...
esses palheiros ou celeiros de outros tempo, ainda com vida! o moinho, muito idêntico ao tradicional moinho daqui, do oeste
sabes que perto da guarda ainda encontrei uma fábrica de lanifícios à moda antiga, com teares e lã pura, onde são feitos os cobertores de papa! lindos!
e esse artesanato que eu tanto gosto, e depois as ideias gastronómicas...hummmmmm, sim, porque coelho bravo ainda como, gosto de caça, agora dos outros... tadinho do meu tonho!
beijinhosssssssss milessssss

Jorge P. Guedes disse...

Gostei do passeio. Fartei-me de andar e nem me cansei!

Um abraço.

jo ra tone disse...

Isamar,
Bom gosto em mostrar as paisagens das serras algarvias.Imagens por mim desconhecidas.
Na última viagem para o sul, regressei por Alcoutim, mas a maior beleza como mostras, encontra-se no interior, e não me foi possível visitar por falta de tempo.
Ficará guardado para uma próxima.
Beijinhos

Elvira Carvalho disse...

Passei amiga. Li o post mas estou com os olhos mais fechados que abertos.
Volto amanhã para comentar. Amanhã? Logo queria eu dizer.
Um abraço e bom fim de semana

uf! disse...

Bom dia. Cheguei aqui a partir do Jorge Sineiro e tive logo o prazer de ver a minha querida serra. Pelo que vejo, teve a felicidade de não cruzar a imensidão desvastada pelo incêndio do passado Agosto (mais um...)Para cima de 1600 hectares de sobreiros, medronheiros, vinhas, oliveiras... ardidos num ápice. Graças às brilhantes opções dos sucessivos governos. Se em vez dos submarinos tivessem comprado meios de combate aos incêndios...
Um abraço e obrigada pela divulgação destas terras

uf! disse...

Esqueci-me de dizer que também tenho um fascínio por cata-ventos. E quando eu era miúda havia um moinho de vento como esse que tem no topo do blog, perto da minha casa, em pleno centro da cidade :-)
Agora moro no campo e tenho um vizinho que faz cata-ventos. Só nos telhados da casa dele há 5.

uf! disse...

Só mais uma coisita: há dias tive o privilégio de ouvir uma geóloga falar da nossa serra (e do litoral algarvio) e fiquei fascinada. É um autêntico catálogo da evolução deste nosso planeta.

Anónimo disse...

Lindíssimo passeio.
Não demorei a dizer-to por estar"cansada",ñ!!
Outras coisas me deitaram abaixo.
Beijo.
isa.

Jorge P. Guedes disse...

Está frio aqui na serra, mas a paisagem sempre bela!

Um abraço caloroso.
Saúde! Bom domingo!