quarta-feira, 2 de setembro de 2009

De promessas não vivem os professores. Nem quem quer que seja.



O secretário-geral do PS afirmou hoje que, se voltar a formar Governo, tudo fará para restaurar uma relação "delicada" e "atenta" com os professores, reconhecendo falhas na forma como lidou com este sector. José Sócrates falava em entrevista à RTP, após ter sido confrontado com as medidas tomadas pelo seu executivo em relação a magistrados e professores.

"Farei o meu melhor", disse o primeiro-ministro depois de interrogado por Judite Sousa sobre o que fará para reconquistar a confiança destes sectores profissionais caso vença as próximas eleições legislativas. "Acredito que exista crispação" e "um sentimento especial em relação às medidas que o Governo tomou", mas "farei tudo o que puder e o que estiver ao meu alcance para que esse ambiente não subsista".

Sobre as razões do mau relacionamento entre executivo e docentes, Sócrates admitiu que, da parte do Governo, "talvez não tivesse havido suficiente delicadeza no tratamento com os professores".

Tirado da imprensa ( net)

Tão tarde, Senhor Primeiro Ministro! Há tanto tempo que podia ter feito o seu melhor! Depois das megamanifestações dos professores em Lisboa e de outras nas capitais de distrito, além das greves com adesões acima dos 90%, nada foi feito e agora, em vésperas de eleições, vêm as promessas. Independentemente das minhas convicções políticas, as suas promessas, agora, pecam por tardias, extemporâneas para quem soube de forma inabalável mostrar o seu descontentamento. E era tão simples! O modelo de avaliação proposto, segundo uma grande maioria dos docentes, era injusto e discricionário e deveria ter sido imediatamente suspenso. E isso nunca foi aceite por quem detinha a tutela da Educação nem pelo Senhor, Senhor Primeiro Ministro. Não houve suficiente delicadeza no tratamento com os professores e eu acrescento que pesporrência, inflexibilidade, insensibilidade nunca faltaram e não vi em momento algum o reconhecimento de que havia erro no tratamento de um assunto que tanto cuidado e atenção merecia e merece.
Bom-senso era preciso e os docentes são pessoas acostumadas ao seu recurso nas diversas situações com que se deparam no seu quotidiano.
O professor é e deve continuar a ser o paradigma do cidadão honesto,consciente, responsável, útil, respeitado na sociedade em que se integra e não foi isso que os professores sentiram. Foi com o desrespeito,a humilhação ,o vexame, a desonra que muitos dos docentes que vieram para esta profissão por gosto, por vocação, porque outras opções tinham disponíveis e não as tomaram, se viram confrontados diariamente. Daí que as maiores manifestações desde o 25 de Abril tenham saído à rua com este governo, talvez ímpares na História, para que a História as registe e a memória não as apague.

QUANTOS SEREMOS?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga

26 comentários:

Vicktor Reis disse...

Querida Isabel

Tratas de forma muito correcta é séria este assunto, como seria de esperar que o fizesses. Por tal, te saúdo e dou ps meus parabéns...

Mas o Povo português continua a "embarcar" nas palavras bonitas e promessas estafadas... na mentira diária que nos é impigida por esse senhor e os seus acólitos, todos eles reféns do capitalismo mais selvagem a troco do seu pessoal bem-estar...

Uma vez mais está na mão de todos nós modificar o curso na nossa história recente a caminho do abismo...

Mas para uma mudança consequente, não "mais do mesmo".

Beijinhos.

Ana Echabe disse...

"Verdades da Profissão de Professor
Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda."
Paulo Freire
(1921 - 1997)Educador Brasileiro

'Todos somos filhos de Deus só não falamos a mesma língua'
abraços uma boa semana

Maria disse...

Já vem tarde demais. Não só para os Professores, mas para todos os que têm memória.

Um beijo
(e a luta tem de continuar!)

Lilá(s) disse...

Pela parte que me toca e ao fim de 33 anos de dedicação total á profissão, estou tão magoada pela maneira como a classe tem sido tratada que, dificilmente esquecerei as mossas que tudo isto me tem feito mas não desistirei...
Bjs

MPS disse...

O Sr. Primeiro Ministro devia ser capaz de aplicar à sua política o nível de lingua que aplicou aos professores e ao movimento sindical. A Isabel deu, com este artigo, um excelente contributo.

Um grande abraço, saudando-a por ver que reentrou em força.

anamarta disse...

Isabel
Parabéns por este post!
De boas intenções está o inferno cheio! Penso que este senhor já não engana os professores nem todos aqueles a quem retirou o emprego e direitos há muito conquistados! Não vale a pena ir disfarçado com a pele de cordeiro!
Um beijo para ti.

gaivota disse...

nem de promessas ou balelaas, isabel... não só os professores, penso que estamos todos mais que fartos das "palhaçadas" a que temos andado a ser expostos e "democraticamente" obrigados a aceitar...tem sido uma governação vergonhosa em todas as áreas!
já te vais preparando para mais outro capítulo desta "guerra"?!?!?!
tal como fala o lindo poema de torga...
beijinhosssssssssssssss milesssssssss

Elvira Carvalho disse...

Mais uma vez Torga, actual e acutilante.
De promessas desse senhor estamos conversados. Há quatro anos, ele dizia que ia equiparar as reformas ao salário mínimo. É certo que eu não esperava que isso fosse possível, mas enfim pensei que teríamos uns aumentos mais justos. E sabe qual foi o aumento da minha reforma este ano? 5€. Pôs os genéricos de borla para os reformados? Verdade. Mas os medicamentos mais caros, como os do colesterol e asma, não têm genéricos. E em contrapartida os diabéticos passaram a pagar comparticipação em medicamentos e fitas que eram gratuitos...
Promessas leva-as o vento mas as deste senhor nem precisam disso.
Um abraço

mixtu disse...

assunto complicado e por isso nem entro a comentar...
cousas positivas foram feitas ou então é apenas um militante socialista a falar...

abrazo serrano e se ganhar a leite, espero que vcs sejam mais felizes

margusta disse...

Isabel Querida,
...vim deixar-te um beijinho e agradecer mais uma vez todo o teu apoio e Amizade!...

E tu nunca desistas de lutar, nesta batalha...

GS disse...

... só mesmo Miguel Torga com essa rectidão nobre de carácter!
E tão esquecido :(

No ano do 'Centenário do seu Nascimento' [2007], nas comemorações que tiveram lugar em Coimbra, segundo li na época, nem um 'representante' do governo! Um Ministério da Cultura, para quê?!

Bom fim-de-semana!
Um beijo,

Goldfinger disse...

Olá Isabel

Parece que este país não conhece outra forma de fazer politica para além desta dos nossos governantes passarem a vida a prometer, prometer, prometer sem cumprirem.
O engraçado é que são sempre os mesmos, e quando por acaso se encontram fora do governo, mesmo tendo por lá passado anteriormente, criticam e apresentam soluções que não tiveram quando lá estiveram.
O nosso PM está a preparar-se para apresentar soluções que não teve enquanto governante. É o habitual e nós portugueses não devíamos estranhar, porque só mudam as moscas...
Mesmo não estando, sabes que estou e estarei... sempre, nem que seja em silêncio.
Espero que te encontres bem.
Um grande beijinho.

António

helia disse...

Promessas, Promessas, Promessas , feitas antes das eleições para depois não serem cumpridas...Mas há muitos e muitos Portugueses que ainda acreditam nas promessas feitas...

vieira calado disse...

Fora com os aldrabões...


Cumprimentos

o escriba disse...

Isamar

Obrigada por este post, honesto e sincero.
O homem em questão vem, para mim, tarde e cada vez mais cínico.

bjinhos
ESperança

Ana disse...

Um excelente e oportuno texto sobre promessas pré-eleitorais. Reconquistar a confiança? Agora? Tarde demais!
O poema diz tudo ...

Podemos fazer a descoberta
do que presta
e não presta
nesta vida.

Um beijo grande, amiga.

EDUARDO POISL disse...

Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.
(Charles Chaplin)

Hoje passando para desejar um final de semana com muito amor e carinho.
Abraços do amigo Eduardo Poisl.

DE-PROPOSITO disse...

E o que não presta é isto,
------------
Há tanta coisa que não presta. No entanto, 'o não prestar' é subjectivo. O que não presta para uns. é bom para outros.
Fica bem.
E a felicidade por aí.
Manuel

lagartinha disse...

Amiga
Continuo na minha...sem os Professores, não somos ninguém...mais respeito em primeiro lugar e em seguida, correr o filme ao contrário: deve haver por aí muito Mestre-escola com vergonha dos seus alunos....
Bejokotones e boa sorte, que bem precisam...

Papoila disse...

Olá:
Quem é que pode acreditar nas palavras mansas e tardias de quem sempre se portou com arrogância?
Muito bom o texto.
Beijo

Manuel Veiga disse...

"Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida..."

nem mais!

gostei muito.

beijos

Paula Raposo disse...

Um excelente post!
Acho que as promessas têm os dias contados. Não?!!
Beijos.

gaivota disse...

agora vou "FUGIR" uns dias até aos açores...
passei para deixar beijinhossssssssss milesssssssss

Zé Povinho disse...

A delicadez de Sócrates manifesta-se em vésperas do julgamento das urnas, por isso a desconfiança tem a sua razão de ser.
A escolha de Torga é muito apropriada.
Abraço do Zé

Elvira Carvalho disse...

Passei só para deixar um abraço.

com senso disse...

Gostei muito deste magnifico texto!
Os professores são a coluna dorsal de um país. Principalmente porque têm, de facto, nas suas mãos o futuro do País.
Tarefa nada simples já que se defrontam diariamente com a necessidade de dar instrução a alunos que vêm de suas casas sem qualquer pingo de educação.
A par dos médicos e enfermeiros, professor é das profissões mais nobres que existe. Nobre e importante e por isso mesmo deveria, em todos os momentos ser respeitada!
O Governo de José Sócrates não soube lidar com os professores.
Penso que deveria existir nos Governos duas plataformas paralelas de actuação.
Uma com os sindicatos, em que naturalmente surgem conflitualidades, que têm que ser resolvidas com civilidade entre as partes.
Outra relativa aos problemas quotidianos dos professores, e esta deveria ser sempre uma "plataforma" sagrada.
Não o foi, longe, muito longe disso.
Não sei se Sócrates aprendeu alguma coisa... Espero que sim, sinceramente, pois face às escolhas que temos que fazer proximamente eu já me decidi ir fazer o mesmo que referiu o Professor Adriano Moreira, vou votar no "menos péssimo" dos dois principais candidatos...