"Maria Angelina (...) dá o sonho, a cor e a energia à insurreição. Vestida de colete de lã e saiote encarnado, com duas pistolas metidas na larga faixa e carabina ao ombro, iluminou os talvegues, quebradas e cordilheiras. A sua presença desafiou o século, e foi mais do que o símbolo da sublevação feminina. Em pleno romantismo, foi título de jornal, inspirou escritores, jornalistas, poetas, dramaturgos, musicógrafos, pintores, caricaturistas e foi, por diversas vezes, litografada. Ana Maria Esteves também saiu da obscuridade por estar à cabeça das atroadas e ter arrombado, com golpes de machado, as portas e o alçapão da cadeia. Mas o verdadeiro herói está na rua: é o colectivo feminino."
Luís Dantas
A Revolta da Maria da Fonte, Edições Ceres, Lisboa, 2001
A Revolta da Maria da Fonte, Edições Ceres, Lisboa, 2001
Maria da Fonte por Rafael Bordalo Pinheiro
Maria da Fonte ou Revolução do Minho é o nome de uma insurreição ocorrida na Primavera de 1846, no Reinado de D.Maria II, contra o governo presidido por António Bernardo da Costa Cabral. As tensões sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas por um grande descontentamento popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas estiveram na origem da revolta. Iniciou-se, no Minho, na zona de Póvoa do Lanhoso por uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o Norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada, que, por isso, ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta. A sublevação propagou-se depois ao resto do país e provocou a substituição do governo de Costa Cabral por outro presidido por Pedro de Sousa Holstein, o 1.º duque de Palmela. Quando num golpe palaciano, conhecido pela Emboscada, a 6 de Outubro daquele ano, a rainha D. Maria II demite o governo e nomeia o marechal João Oliveira e Daun, Duque de Saldanha, para constituir novo ministério, a insurreição reacende-se e dá origem a uma guerra civil de 8 meses, a Patuleia, que apenas terminaria com a assinatura da Convenção de Gramido, a 30 de Junho de 1847, após a intervenção de forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança.
Fonte : net
talvegue- fundo do leito de um rio; vale.
Quádrupla Aliança - designação dada ao tratado assinado em Londres a 22 de Abril de 1834 entre os governos de Guilherme IV do Reino Unido, Luís Filipe de França, D. Pedro IV de Portugal (regente em nome de sua filha D. Maria II) e a regente de Espanha D. Maria Cristina de Bourbon, visando impor regimes liberais nas monarquias ibéricas. Tal implicava a garantia da expulsão dos infantes D. Miguel de Bragança de Portugal e D. Carlos de Borbón de Espanha, mesmo que tal obrigasse à entrada de tropas estrangeiras nos respectivos territórios.
Convenção de Gramido -acordo assinada a 29 de Junho de 1847, na Casa Branca do lugar de Gramido, em Valbom, Gondomar, com o objectivo de pôr fim à insurreição da Patuleia. A Convenção foi assinada entre os comandantes das forças militares espanholas e britânicas que tinham entrado em Portugal ao abrigo da Quádrupla Aliança e os representantes da Junta do Porto e selou a derrota dos setembristas frente aos cartistas na guerra civil que tinha assolado Portugal em 1846-1847.
Patuleia ou Guerra da Patuleia - nome dado à guerra civil que, após a Revolução da Maria da Fonte e a ela estreitamente associado, foi desencadeada em Portugal pela nomeação, na sequência do golpe palaciano de 6 de Outubro de 1846, conhecido pela Emboscada, de um governo claramente cartista presidido pelo marechal João Oliveira e Daun, Duque de Saldanha. A guerra civil teve uma duração de cerca de oito meses, opondo os cartistas (com o apoio da rainha D. Maria II) a uma coligação que juntava setembristas a miguelistas. A guerra terminou com uma clara vitória cartista, materializada a 30 de Junho de 1847 pela assinatura da Convenção de Gramido, mas apenas após a intervenção de forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança.
17 comentários:
Querida Amiga,quantas e quantas vezes as Mulheres lideraram movimentos? A Maria da Fonte foi sempre uma referência.
Bom começo de semana.
Beijo.
isa.
O Rui Veloso falolu por mim.
Grande lição... de história.
Abraço
Que pena não haver por aí uma Maria da Fonte agora.
Gostei do post. Conhecia a história da Maria da Fonte, mas há muita coisa no post que eu desconhecia.
Um abraço
Olá,
Belo post!! Muito interessante, e bem escrito!
Bjs
Atrevo-me a dizer que desejaria que um novo colectivo feminino encabeçado por uma nova Maria da Fonte, está há muito tempo a ser preciso por estas terras à beira-mar plantado. O "colectivo masculino" não tem dado lá muito bem, conta do recado.
Vamos lá MULHERES deste País...mostrem o que valem!
Conheço a Maria da Fonte desde criança pois vivia perto do Jardim da Parada onde existe uma estátua deste "guerreira". Mas agora fiquei muitoi mais culta...obg pela partilha.
Maria da Fonte
uma grande mulher de armas.
Hoje não iria comentar a "elegância do PM", mas sim medi-lo de alto a baixo com umas boas pauladas,
de certeza absoluta.
Beijinho
João
Uma verdadeira lição de História...
Obrigada e um beijo.
Rever as lições de História é bom, mas ao som do Rui "Beloso", melhor ainda.
Beijos.
"As sete mulheres do Minho
Mulheres de grande valor
Armadas de fuso e roca
Correram c'o regedor."
____
"Viva a Maria da Fonte
Vem com esporas de prata
A cavalo na rainha
Com o Saldanha p'la arreata!"
Quadras populares
A graça disto tudo é ver um neto do marquês de Pombal metido nas confusões liberais e, quantas vezes,instigador delas. Saldanha, claro, para quem se inventou neologismo à altura: Saldanhada!
Pois, então, que viva a Maria da Fonte!
Um abraço
Querida Cata-Vento:
Lá em casa desde pequena que conhecia a figura da Maria da Fonte a propósito de uma azulejo com a sua imagem e uma quadra...
"É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer"
Gostei muito do artigo e deixo-te aqui o hino completo...
Viva a Maria da Fonte
Com as pistolas na mão
Para matar os cabrais
Que são falsos à nação
É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com as pistolas à cinta
A tocar a reunir
É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho que primeiro
O seu grito fez soar
É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
É avante Portugueses
É avante não temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
Beijos
Era mesmo de uma Maria da Fonte que estávamos de novo a precisar!
bjinhos
Esperança
"Se tudo for feito com Amor e ingenuidade;
Se todos se amarem mutuamente;
Se a felicidade for uma Eternidade;
Se a tristeza for mera passagem;
Se a amizade for sincera e de Verdade;
Se a vida for um Dar acima de receber;
Então descobriremos que foi em cada uma desses
momentos que nosso coração bateu mais forte,
e que agimos pura e simplesmente como seres Humanos!"
(Vera Costa)
Desejo uma linda semana com muito amor.
Abraços.
excelente referência e muito bem documentada, a maria da fonte! grande figura que a história nos deixou, tal como a padeira de aljubarrota e maisssssssssssssss
bem hajas!
beijinhosssssssssss grandesssssssssss
Post interessante e que enriqueceu a informação que tinha de Maria da Fonte. Fazendo eu parte do colectivo feminino, é com particular agrado que leio sobre a relevância de mulheres que fazem história (sem quaisquer feminismos, óbvio). Obrigada pela sua pesquisa :-)
Viva a Maria da Fonte,
pois então!!!!!
E vou a correr buscar o meu CD do Vitorino!!!!!
Bjkas!
Gostei de recordar a Maria da Fonte,de quem eu ouvia falar desde a infância, e agora neste espaço foi-me relembrada com pormenores que eu desconhecia
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